SMS
(para o José Pedro Magalhães)
O Menino e o Pai
não me deram o James Franco
pelo Natal
deram-me antes a cruz
de o não ter
Vi a vaca e o boi
à volta do Menino
e a Virgem
vestia cuecas provocantes
para seduzir o
Pai
Não te quero
nunca te quererei
(não sei porquê, Senhor)
A minha vida
ainda não é um livro
não é livre
e não vive
Queria chorar
mas não chove
e Verlaine aborrece-me
ou então:
o Natal está a chegar
e eu sem ninguém
para fornicar
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sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
a poesia não existe.
A noite |
A noite veio de dentro, começou a surgir do interior
de cada um dos objectos e a envolvê-los no seu halo negro.
Não tardou que as trevas irradiassem das nossas próprias
entranhas, quase que assobiavam ao cruzar-nos os poros.
Seriam umas duas ou três da tarde e nós sentíamo-las
crescendo a toda a nossa volta. Qualquer que fosse a pers-
pectiva, as trevas bifurcavam-na: daí a sensação de que,
apesar de a noite também se desprender das coisas, havia
nela algo de essencialmente humano, visceral. Como ins-
tantes exteriores que procurassem integrar-se na trama
do tempo, sucediam-se os relâmpagos: era a luz da tarde,
num estertor, a emergir intermitentemente à superfície das
coisas. Foi nessa altura que a visão se começou a fazer
pelas raízes. As imagens eram sugadas a partir do que
dentro de cada objecto ainda não se indiferenciara da luz
e, após complicadíssimos processos, imprimiam-se nos
olhos. Unidos aos relâmpagos, rompíamos então a custo
a treva nasalada.
in Luís Miguel Nava, Vulcão I |
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
everything invaded
Se houvesse degraus na terra e tivesse anéis o céu,
eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia.
No céu podia tecer uma nuvem toda negra.
E que nevasse, e chovesse, e houvesse luz nas montanhas,
e à porta do meu amor o ouro se acumulasse.
Beijei uma boca vermelha e a minha boca tingiu-se,
levei um lenço à boca e o lenço fez-se vermelho.
Fui lavá-lo na ribeira e a água tornou-se rubra,
e a fímbria do mar, e o meio do mar,
e vermelhas se volveram as asas da águia
que desceu para beber,
e metade do sol e a lua inteira se tornaram vermelhas.
Maldito seja quem atirou uma maçã para o outro mundo.
Uma maçã, uma mantilha de ouro e uma espada de prata.
Correram os rapazes à procura da espada,
e as raparigas correram à procura da mantilha,
e correram, correram as crianças à procura da maçã.
“A Faca Não Corta o Fogo”, Súmula & Inédita (2008)
eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia.
No céu podia tecer uma nuvem toda negra.
E que nevasse, e chovesse, e houvesse luz nas montanhas,
e à porta do meu amor o ouro se acumulasse.
Beijei uma boca vermelha e a minha boca tingiu-se,
levei um lenço à boca e o lenço fez-se vermelho.
Fui lavá-lo na ribeira e a água tornou-se rubra,
e a fímbria do mar, e o meio do mar,
e vermelhas se volveram as asas da águia
que desceu para beber,
e metade do sol e a lua inteira se tornaram vermelhas.
Maldito seja quem atirou uma maçã para o outro mundo.
Uma maçã, uma mantilha de ouro e uma espada de prata.
Correram os rapazes à procura da espada,
e as raparigas correram à procura da mantilha,
e correram, correram as crianças à procura da maçã.
“A Faca Não Corta o Fogo”, Súmula & Inédita (2008)
sábado, 10 de dezembro de 2011
Morreste-me.
Nunca mais
A tua face será pura limpa e viva
Nem o teu andar como onda fugitiva
Se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.
Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
Do teu ser. Em breve a podridão
Beberá os teus olhos e os teus ossos
Tomando a tua mão na sua mão.
Nunca mais amarei quem não possa viver
Sempre,
Porque eu amei como se fossem eternos
A glória, a luz e o brilho do teu ser,
Amei-te em verdade e transparência
E nem sequer me resta a tua ausência,
És um rosto de nojo e negação
E eu fecho os olhos para não te ver.
Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
Sophia de Mello Breyner Andresen
A tua face será pura limpa e viva
Nem o teu andar como onda fugitiva
Se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.
Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
Do teu ser. Em breve a podridão
Beberá os teus olhos e os teus ossos
Tomando a tua mão na sua mão.
Nunca mais amarei quem não possa viver
Sempre,
Porque eu amei como se fossem eternos
A glória, a luz e o brilho do teu ser,
Amei-te em verdade e transparência
E nem sequer me resta a tua ausência,
És um rosto de nojo e negação
E eu fecho os olhos para não te ver.
Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
Sophia de Mello Breyner Andresen
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
as regras da atração
“Four shots of tequila, please!”
Pediam bebidas num bar do Bairro Alto, quatro, as bebidas e as pessoas. Tinham-se conhecido num albergue no centro de Lisboa. Estavam num grupo maior, mas, distanciados, juntavam-se assim porque assim acontecera.
Tinham uma semana juntos, numa semana roça-se apenas os pelos da pele de alguém, mas sente-se mais esses toques pela urgência do tempo e da intensidade do contacto. Drew pagou os quatro shots e olharam-se entre risos e queixas do sabor e força do álcool ingerido. – “I think we’re going to regret these tomorrow”, disse Michelle, e Pedro acenou que sim, acrescentando no entanto, – “ Oh well, we should just have fun, we’ve only got one week to have fun together.” Pedro era o único português do grupo, rececionista no albergue onde se haviam encontrado todos. – “I think we should have another one of those together – I’m buying!” Quem fez a proposta foi Jasmine e sem aguardar pela resposta pediu os quatro shots. Imediatamente após o pedido, os seus olhos fixaram-se nos de Pedro, que desviou o olhar automaticamente. Quando voltou a olhar para Jasmine, o rosto dela era um sorriso tímido e já um pouco embriagado. Sorriu também como pôde e voltou a desviar o olhar na direção de Drew. Drew era alto e loiro, britânico londrino. “So, how come your name is the same as Drew Barrimore?”, inquiriu Michelle verdadeiramente confusa. “Well, in English my name works for both men and women. But I guess it’s kinda funny.” Michelle riu-se e concordou, acendendo um cigarro. “What do you think, Pedro?” “About what?”, respondeu Pedro, parecendo acordar de um transe. “My name – is it weird that it’s also a girl’s name?” “I don’t think it’s weird, that happens in my language too.” “See?”, exclamou Drew para Michelle, “he doesn’t think it’s weird.” “It is weird to me”, sorriu Michelle. E Drew voltou a olhar para Pedro com um olhar que este não sabia descortinar.
***
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