Número total de visualizações de páginas

domingo, 9 de junho de 2013

Heimat


      Se a chuva não caísse talvez tu tivesses levado a cabo a tua peregrinação. Talvez se o sol não tivesse desistido de nós tu ainda cá estivesses. E passar-se-ão cinco anos e o sol talvez nunca mais volte. E hás-de acordar sozinho, dormindo o sono das paredes das esquinas dos cantos enquanto te servem vinho quente e tu te enrolas enregelado num cobertor de cobardia e sabes que a chuva não parará de cair nem o sol algum dia te perdoará. 
      Mas vive, amigo. Eu não saberia existir o mundo sem existir-te a ti também. És o equilíbrio de um pendente prestes a partir-se todo, cada estilhaço em cada poro da minha pele uma lembrança de cada vez que te escrevi um poema ou te dei sabão ou rosas ou vinho ou beijos na testa nos braços nas mãos nos olhos na boca.
      Se a chuva não caísse talvez a manhã nunca acabasse e o sol fosse solícito ao ponto de nos iluminar o caminho até à casa prometida. Mas tu nunca saberás dessa hipótese. Tu não és.

Sem comentários:

Enviar um comentário