Número total de visualizações de páginas

sábado, 28 de janeiro de 2012

a anarquia dos pequenos terramotos


Uma vez vi mesmo um preto a cagar contra a parede do Teatro Nacional Dona Maria em plena luz do dia, e arrisquei-me, perdoem-me a audácia e má-fé, arrisquei-me a ponderar se aquilo seria uma prova da maior humilhação a que um ser humano pode ser sujeitado ou se, por outro lado, seria uma acção de conquista total e maior de liberdade. Rabo ao léu, o ar quente como o Agosto assim o ditava, e a merda contra a intelectualidade e a arte, contra aquele edifício que era consequência da ordem, história e renascimento do país. Mesmo ali, sem tirar nem pôr, o homem cagou para o império.  E o Gil Vicente, especado lá em cima, haveria de rir-se se essa fosse a verdade, se o homem estivesse mesmo afirmando o seu desprezo por tudo o que aquele teatro simbolizava e a declarar a sua liberdade, a última liberdade, a anarquia de deixar a sua marca fedorenta contra a parede branca do esplendor dramático de Portugal.

Sem comentários:

Enviar um comentário