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sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Tríptico de Silêncio

Intro



Se o brilho no meu rosto fosse
prata de luar brando
e através da minha dor
andasse afogado o sangue da tua,
o amor teria então casa
e seria compacto como a noite,
noite onde todas as faces são
palavras nascidas do breu,
e o amor sorriria.
E eu diria 
que o amor é a fome transformada,
e que nós somos dois poços fitando o céu.

Selfie I: Elagabalus


Outro

Tâo soberba e tão cega é
a música dos surdos-mudos,
impercetível conjunto
(um mais um mais um)
de números iguais e inventivos.
Dessa água, um haiku morrente,
não beberei eu, cruel supremo.
Tu, alto, material, estreito, cadente
chegas como um sopro disfarçado
de verdadeira avidez.
Sem suposição de corpo,
és a mais severa música:
eu, tu e o diabo fazemos três.

Selfie II: Ἀκταίων




Ad Libitum

Gostava de saber a matriz do tempo.
Queria respirar pela minha voz,
como um dicionário de palavras suspensas.
A terra é afinal tão pequena,
e há tanto sangue na terra,
e tanta ciência e tantas flores
na terra.
Como um múltiplo do mundo,
eu levanto voo;
Como um bêbado ao alcance de um tombo,
eu levanto-me.

E por entre as corolas,
estrondo adentro,
como numa espécie de transe,
deixa-me ressuscitar no fim dos meses,
pedra sob pedra,
pétala a pétala,
como pólvora num arcabuz essencial.
Deixa-me ver enfim o pleno dia, ver
como homem primitivo e exato,
ver a luz primordial.

Selfie III: Ἠέλιος

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