Número total de visualizações de páginas

sábado, 22 de agosto de 2015

imagem refletida

5.
Partiria pelas 14:30. Estava nervoso porque era suposto estar nervoso em tais situações. A caminho do aeroporto, sentia um fogo frio na garganta e no estômago, um fogo que me ardia gelidamente em contacto com o ar condicionado do carro dos meus pais. Eu, sempre externamente estoico, deixei-me estar condunzindo, só para não ter saudades disso tão cedo.
Os meus pais discutiam com o meu irmão e o meu primo, que viera porque gostava muito de aeroportos, permanecia calado, provavelmente feliz com a expectativa de rever os aviões a partir e a chegar. Esse meu primo, filho do tubarão, ironicamente enfeitiçado pelos aeroportos. Suspeito eu que fosse pela memória do pai.

Mas era eu quem partiria.

12.
Partiria pelas 14.30.
Estava nervoso porque era suposto
Estar-se nervoso em situações assim.
A caminho do aeroporto, a garganta
Um fogo em uníssono com o ventre,
Um fogo que me ardia friamente
Como o ar condicionado do carro
Dos meus pais. No entanto,
Deixei-me estar conduzindo, só para não ter
Saudades disso tão em breve.
Os meus pais
Discutiam com
O meu irmão e
O meu primo, que viera porque gostava muito de aeroportos
(talvez porque lhe lembrassem do meu tio, que chegava sempre de avião e tinha sido, seria ainda?, o seu pai),
Permanecia calado,
Provavelmente feliz com a expectativa
De rever os aviões na aterragem e descolagem. 

Sem comentários:

Enviar um comentário