Número total de visualizações de páginas

segunda-feira, 16 de abril de 2012

a conversão de Diógenes ao Cinismo

       "Irremediavelmente, não sou um bicho do mato, sou eu, só um homem, nem homem ainda, tenho pêlos e esperma, mas sou não ainda uma pessoa como acho que devo ser, tenho-me até por maior inimigo de mim mesmo, quebrado e afectado, odeio quem não consigo deixar de ser, - e estes filhos da puta que já me vão pedir coisas aqui à minha frente, e eles sem culpa alguma do meu veneno, etc - acordo todos os dias a querer fugir de mim com se houvesse dois eus, e nenhum deles é o Fernando Pessoa (abençoado, que conseguiu ordenar o estilhaçado), não sei o que quero nem o que fazer para chegar lá, e lá não é lugar algum, é mais um estado fugaz, cínico, uma luz que surge de vez em quando, eu não sei fugir de onde estou nem quero ir para onde vou, porque tenho de ir, - querem vinho, Mateus, por sinal, rosé, e ainda me perguntam o meu preferido - e o estado da economia, grande merda a organização do mundo, há até um banco mundial concomitante à fome e à miséria e à doença e aos satélites no espaço, que palhaços fomos, fomos sendo e somos, fizemos deste planeta o maior martírio, não conseguimos parar agora, os mendigos dormindo na rua à noite, as mãos nojentas a descascar uma laranja, o asco, e ainda assim seguimos uma rota circular, que burros, etc, mas eu sou só um homem, não serei feliz enquanto houver uma criança a morrer de fome, mas não sou ainda uma pessoa, os meus pêlos e o meu esperma não podem saciar a humanidade."

Diógenes.

Sem comentários:

Enviar um comentário