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segunda-feira, 22 de outubro de 2012

a congestão


    Naquela noite, acordei com dificuldades respiratórias. Pensei que devia deixar de fumar porque sentia o meu tórax demasiado pequeno para os meus pulmões, como se eles estivessem inchados. Ainda estremunhado, desci as escadas que ligam o primeiro andar ao rés-do-chão e por momentos pensei que ia desmaiar. Pensei palavrões. 
    Cedo notei, no entanto, que o meu problema não era pulmonar: o meu estômago fazia um enchumaço na camisola do pijama, inchado que estava, e então comprimia as minhas costelas, pensei. E as dores no estômago, como se tivesse todo dobrado e encorrilhado, cheio de pregas. Aí pensei que podia fumar à vontade, quanto mais não fosse pelo apelo da decadência.
    Abri uma lata de coca cola, sempre achei que a coca cola é boa para provocar arrotos, que aliviam o estômago. E bebi coca cola às cinco da manhã. Ainda as dores. E dobrei-me eu de cócoras, apertando o estômago levemente, sem saber que estaria morto daí a 10 minutos. Deitei-me no chão e a congestão continuou. Os vómitos vieram finalmente e fiquei aliviado de início, sorrindo por trás das lágrimas que se formaram nos meus olhos devido ao esforço. Consegui levantar-me a custo e voltei a subir as escadas para ir à casa de banho.
    A morte veio-me de forma muito lesta. Tinha engolido um pouco do meu próprio vómito pelo canal errado e o arranque de tosse obrigou-me a parar a subida nas escadas. Tossi então de forma mais brusca e desequilibrei-me, caindo para trás de costas e escadas abaixo. O meu pescoço partido. A congestão. Eu tinha vinte e oito anos e morri.

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