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quarta-feira, 11 de maio de 2011

o caminho que a vida encontra, vindo.

No entanto, nunca em nenhuma dessas excursões Eva se tinha aventurado em demasia pelas ruas cheias de gente diferente das gentes que conhecia na aldeia, talvez por receio da sedução do que é morbidamente apelativo para quem a vida não parece prometer mais do que um tecto e muito labor. E assim o mundo era para ela o seu casamento com Nero, a incapacidade dos dois de terem filhos e agora a perspectiva de ter finalmente um rebento sangue do seu sangue. Tudo o que existia de permeio nesses momentos que Eva considerava serem o significado necessário da sua existência calada pelas subtis forças da ruralidade que era o seu berço, todos os instantes que eram os compassos de espera entre o nascimento, o casamento, o ventre secado pelo calor e o frio e agora o futuro parir de alguém seu constituíam apenas tempos que pouco ou nada lhe diziam. E foi ainda com uma alegria de menina que Eva acabou de lavar o último prato e o pôs a escorrer. Lançou até um derradeiro olhar ao cão que seguia farejando um rasto intermitente na rua, sorriu e saiu da cozinha. Os últimos raios de sol daquele fim de tarde começavam a emagrecer visivelmente e Eva não reparou que o que o cão procurava era um lugar isolado onde pudesse morrer.

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