No entanto, nunca em nenhuma dessas excursões Eva se tinha aventurado em demasia pelas ruas cheias de gente diferente das gentes que conhecia na aldeia, talvez por receio da sedução do que é morbidamente apelativo para quem a vida não parece prometer mais do que um tecto e muito labor. E assim o mundo era para ela o seu casamento com Nero, a incapacidade dos dois de terem filhos e agora a perspectiva de ter finalmente um rebento sangue do seu sangue. Tudo o que existia de permeio nesses momentos que Eva considerava serem o significado necessário da sua existência calada pelas subtis forças da ruralidade que era o seu berço, todos os instantes que eram os compassos de espera entre o nascimento, o casamento, o ventre secado pelo calor e o frio e agora o futuro parir de alguém seu constituíam apenas tempos que pouco ou nada lhe diziam. E foi ainda com uma alegria de menina que Eva acabou de lavar o último prato e o pôs a escorrer. Lançou até um derradeiro olhar ao cão que seguia farejando um rasto intermitente na rua, sorriu e saiu da cozinha. Os últimos raios de sol daquele fim de tarde começavam a emagrecer visivelmente e Eva não reparou que o que o cão procurava era um lugar isolado onde pudesse morrer.
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