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quarta-feira, 27 de julho de 2011

a mulher que não conseguia escrever romances

Sentou-se e olhou para a página meia escrita. Pediu novo café e decidiu-se a transformar o que imaginara em literatura. Pensar as palavras certas, as descrições límpidas e as metáforas acertadas, mas o período. Como desaparecessem os homens e mulheres que ficcionalmente lhe haviam invadido a imaginação, fechou o caderno bruscamente. Nunca escreveria um romance. E na sua cabeça de literária a culpa era do período, o bode expiatório a degolar era o ser mulher, fêmea, fraca e exposta. E desejou ter nascido homem com um pénis que simbolicamente fosse a mão a semear a terra e a possuí-la. Aquela sua chaga, pensava, aquela sua chaga era a realidade inevitavelmente a tocar-lhe com os seus dedos corriqueiros e vulgares. Ah, como era filha de uma grande puta, a realidade.

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