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segunda-feira, 18 de abril de 2011

2.1. Os Escombros

DUALIDADE

Nos meus olhos reflecte-se o dia,
com todas as cores que o pintam,
como um quadro de um artista que não conheço.
Sou eu quem está representado e
os tons são todos meus.
No entanto, tanto quanto identifico de mim
não se me assemelha a quem penso que sou,
porquanto a minha face não é
a que tenho vindo a pôr.

De olhos semicerrados e mente bem aberta,
olho de novo para a cena representada e
penso que não me representa.
Será isto um sonho que sonhei,
numa noite em que não adormeci,
ou será isto somente um espelho
que mostra o que imaginei e nunca vi?
Estou tendo, certamente, um devaneio,
desejando ser quem nunca foi como eu!

--

A dor que estou sentindo,
qual alma fora da alma que devo ter,
é como se doesse no exterior
do corpo de quem nunca desejei ser.
Talvez não seja mesmo eu
quem sente aquilo que sinto e
talvez a dor ache que eu lhe doo
na alma que certamente lhe pertence.
No entanto, sofre a dor e sofro eu também.

Quem experimenta aquilo que a dor oferece,
sentirá com certeza a doença
que o império lhe tece nas malhas
de uma alma que não é a sua.
Seremos todos reis que abandonaram
o trono em busca de mais riqueza?
Talvez sejamos apenas amantes eternos,
servis companheiros de viagem,
de uma sempre acordada e fiel tristeza.


2007

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