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terça-feira, 5 de abril de 2011

I. Pergunta Nenhuma

O Medo

O medo que cessa o canto da cobra
provoca um orifício no corpo desnudado
de um anjo de asas negras.
As escamas que crescem para se transmutar em
pele de poeta vestido de serpente
comem as carcaças das palavras erigidas
por um homem sem tempo nem substância.

Não há glória no rastejar de um réptil,
tal como não há glória na androginia de
um homem feito anjo feito poeta.
Há cobiça na vã língua de assobiar,
quando se lambe uma folha de papel
e a saliva desenha poemas recheados de veneno.

A cobra, o homem, o anjo, o poeta –
titubeantes eunucos à volta do fogo.
A cobra, esmagada pela pata férrea de um homem;
O anjo, depenado por um poeta esganado.
Da lama nascem poemas que serpenteiam
até ascenderem aos céus;
Mas nunca sem antes passarem por esse homem.
Esse homem que, por medo, escreve palavras.      

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