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terça-feira, 19 de abril de 2011

2.3. Os Escombros

O SEGREDO

Ao meu Pai e minha Mãe

Choraste quando te disse para viveres por ti e não por mim.
Choraste porque eu seria teu até ao fim dos teus dias.
O pai chorou porque chorámos os dois.
E aí eu percebi, mãe,
eu percebi que um dia me arrependeria.

De tantas vezes ter saído da mesa mais cedo.
De tantas outras vos ter falado do mal.
De ter sido gelo ao vosso calor.
De ter gritado veneno.
De ter desejado morrer.
De ter tido secretamente vergonha.
De vos culpar da minha miséria.
De não ter visto a que vos causava.

Agora sou eu que choro e vivo também por vós.
Choro porque serei vosso até ao fim dos meus dias.
E se penso tanto na morte é porque ainda mais penso na vida.
Foi esse o segredo que me ensinastes.
A perceber que serei para sempre o vosso menino.

4 comentários:

  1. Enternecedor e sombrio. Parabéns poeta!

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  2. Sou uma Anónima! Tudo bem, princípe? ;)

    Yourcenar dizia «Tenho lido cada vez mais que as palavras atraiçoam o pensamento, mas parece-me que as palavras escritas atraiçoam-no ainda mais (...) Se é difícil viver, bem mais penoso é explicar a vida que se vive.»

    Gostei muito de viajar nas palavras...

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  3. Obrigado, anónima, mas era giro saber-te o nome para te agradecer melhor :)

    Em relação à palavra escrita...sim, pode violar a realidade, mas também a pode organizar (cf. reescrita da narrativa pessoal).

    Obrigado pelas palavras, é-me muito importante saber que as minhas podem de certa forma agradar a alguém! ;)
    A.

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