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segunda-feira, 4 de abril de 2011

deus chora porque não sabe morrer

"... caiu sobre a cidade um silêncio pesado, como se um luto mais profundo tivessem de purgar, talvez o duma religião ofendida, talvez o insuportável remorso dos actos fratricidas e foi então que, rompendo as últimas barreiras da dignidade e do recato, a fome se mostrou na cidade em sua mais obscena expressão, que menor obscenidade é a exibição dos comportamentos íntimos do corpo do que ver extinguir-se esse corpo à míngua de alimento sob o indiferente e irónico olhar de deuses que, tendo deixado de guerrear uns contra os outros por serem imortais, se distraem do aborrecimento  eterno aplaudindo os que ganham e os que perdem, uns porque mataram, outros porque morreram."

José Saramago, História do Cerco de Lisboa.

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